terça-feira, 30 de março de 2010



A SERENATA

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Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
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Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
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Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos
a pele assaltada de indecisão.
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Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos -
só a mulher entre as coisas envelhece.
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De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
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Adélia Prado

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