segunda-feira, 18 de outubro de 2010


LÁGRIMAS OCULTAS
.
Se me ponho a cismar em outras eras,
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida …
.
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida !
.
E fico, pensativa, olhando o vago …
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim …
.
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma !
Ninguém as vê cair dentro de mim !
.
Florbela Espanca

Nenhum comentário:

Postar um comentário