terça-feira, 16 de novembro de 2010


FLORISTA
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Deixai passar pela margem da tarde
a velha florista
que levanta nos braços o fim das flores:
- imenso chapéu de ramos amontoados.
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Vede os tristes cravos desfeitos,
e o lábio oscilante da última pétala de rosa.
Os lírios quase líquidos,
moles e túmidos,
prolongam densas lágrimas.
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Deixai passar com o fim das flores,
com o fim da vida,
a velha florista,
de saia verde, de xaile roxo, de meias grossas,
toda coberta de flores murchas,
de espesso pólen, de mortos espinhos,
- canteiro deslizante,
a velha florista,
a escorregar para o ocaso,
lenta e sozinha,
sob os álamos amarelos,
ao longo de muros tão antigos,
como depois de uma grande festa,
de um culto de outrora.
.
Cecília Meireles

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